terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Fim do 'Fim'.

"Como você ia se sentir sobre a vida se a Morte fosse sua irmã mais velha?"



Fim do ‘Fim’

 

 

E se eu dissesse a você que não há mais fim, que por mais que o tempo passe as coisas não vão perecer, as vidas não irão se esvair, que a água que escorre entre seus dedos não envelhecerá indo desaguar em algum mar. Tudo o que vê agora e aquilo o que te rodeia não mais acabará, não falo apenas do que te rodeia de forma material, estendo essa condição imperecível aos sentimentos, pensamento e tudo aquilo que constrói através da alma. Acostume-se com essa nova realidade, você não precisa se preocupar se a velhice o atormentará tão cedo, agora tudo permanece exatamente como está, não estou dizendo que você não poderá mudar; não é isso; terá tantas oportunidades de ser alguém diferente quantas vezes quiser, pois o tempo em si não será preocupação. Assim como pode manter-se a mesma pessoa. Cada um faz de sua eternidade o que quiser. Ainda não confia que isso já ‘é’.

“Mas e se me matarem?”.

Ah, sim! Com certeza você ainda pode morrer, mas o pior assassino de todos, o ‘grande genocida’ do universo não irá mais te atormentar. Ele já desistiu de ‘ser’. Nessa nova condição em que nos encontramos o ‘grande genocida’ chamado Tempo não te alcançará com seus dedos gélidos ao redor de seu pescoço roubando seu fôlego que antes era mortal. Sabe, você se preocupa  muito com a assustadora Morte, mas não percebe que durante toda sua existência o que te levava a cada dia para o seu fim era o ‘grande ladrão’, roubando seus milésimos, seus segundos, suas horas, seus dias e anos, a cada ciclo que se completava. Nascer, crescer, se desenvolver e morrer. Por isso não culpe apenas a morte. Ela o carrega para o seu descanso, ela não é a verdadeira culpada por furtar sua vida. O Tempo faz isso sem que perceba. Não entendeu ainda? Tudo bem, eu sei o quanto é difícil em pensar como se existe sem estar inserido em tempo algum. Você veio de uma realidade em que espaço-tempo andavam juntos, mas apenas tente enxergar o seguinte: tempo e espaço são conceitos distintos.

 Existem espaço em que o tempo não habita, assim como existe tempo em que o espaço não está.

Piorou, não foi?

Me desculpe por rir um pouco de sua ignorância, é costume daquela que sabe demais quando encontra aquele que sabe de menos, mas quem me dera a santa ignorância me livra-se de tanta sabedoria, pois minhas preocupações seriam bem menores. No entanto, essa não é a questão; agora você tem que entender numa forma mais humana, recorreremos ao exemplo então.

Você está agora em um espaço sem o tempo, aqui você simplesmente ‘está’, existe e ocupa esse espaço, sem a noção de passado, presente ou futuro; você pensa estar no presente, mas esse ‘momento’, se levar em conta o aspecto material de sua existência, é um ‘momento para o espaço’, estar nele independe de qualquer fluir da temporalidade. Você é uma existência espacial que percorre um tempo, mas a sua ‘existência em si’ é feita só de espaço, não tem a ver diretamente com Tempo. E percorrer o tempo com sua existência espacial é um dos maiores desejos do homem: viajar no tempo. Não fique assim tão boquiaberto e não pense que poderá vencer o poderoso Tempo. Nem eu posso, acredite.

Só que aqui o Tempo não existe, por isso podemos agora estar nesse ‘espaço-existindo’, e nos ‘movermos’ sem noções temporais. Entenda isso, ‘estamos’ no espaço e não no tempo. E estando em um estado em que apenas o espaço existe, você pode criar, desfazer, recriar qualquer tempo que quiser dentro do espaço, mas se você percebeu, você nem se moveu um milímetro sequer do lugar em que está, pois o tempo é movimento. Olhe pra baixo. Viu, não há pegadas de seus pés. Apenas as minhas é claro.

“Como?”

Porque, para caminharmos através do espaço, precisamos do tempo e eu sei moldar melhor do que qualquer um de meus Irmãos Perpétuos o tempo em meu próprio espaço. E não olhe com desconfiança pra mim, eu não sou o Tempo. Ninguém, nem mesmo eu, tenho a petulância de encontrar com ele. Dizem que ele tem a mania de fazer sentirmo-nos velhos e cansados. E não posso envelhecer ou me cansar, pois no seu mundo( e em vários outros) eu trabalho tanto todo dia que me cansar seria imperdoável para a densidade demográfica do planeta azul de onde você veio.

“Quem é você?”

Quem sou eu? Não notou minha pele pálida, meus olhos sedutores e minha voz melodiosa que hipnotiza. Sou aquela a que vocês humanos amam odiar, mas depois que me conhecem odeiam me amar tanto.

“Você é ela? Então estou morto? Nãããããooooo!!!”

Viu, você sabe mais sobre mim do que imaginava. Agora que já me conhece e sabe em que ‘condição’ está inserido nesse meu espaço, vai ser menos difícil você entender qual foi o sentido da sua vida. E sim, digamos que você está morto, mas não se preocupe, é bem melhor que aquilo que vocês humanos conceituaram como vida (um conceito equivocado pra te dizer a verdade).

“Como?”

Adoro os humanos, sempre com tantas perguntas, e eu cheia de tantas respostas. Ainda bem que vocês vem até mim, posso exercitar minha dialética. O ‘como’ você já sabe.

“Sei?”

Quando você ‘começou’(nasceu), lembra exatamente dele?

“No útero de minha mãe?”.

Não limite sua mente a isso meu amigo. Seu nascimento começou assim que o Tempo começou a existir. Agradeça a ele por isso pelo menos, mas não esqueça que ele continua e nessa continuidade arrasta tudo para mim; mas não fique espantado, vou falar como era tudo sem o Tempo.

“...”

Sim meu caro, o Tempo não existia no começo de tudo.

“Por quê!?”.

Ah, difícil resistir em não lhe revelar isso, ma você não resistiria em absorver tal conhecimento.

“O que aconteceria comigo?”.

Digamos que você não poderia não ser mais você, poderia ser o que quisesse ser na verdade. E voltaria pra Terra e se proclamaria deus e faria tudo o que os outros deuses da Terra fizeram: Nada. Eu lhe deixaria saber sobre o porque do tempo não existir antes se você me prometesse voltar pra Terra com esse conhecimento e se tornasse um deus que não apenas almejasse ser louvado, mas que libertasse os humanos de suas dúvidas; só que o último que me prometeu isso causou um dilúvio, soltou pragas no mundo, teve um filho, o sacrificou, e ainda por cima aterroriza os humanos com a idéia do fim do mundo. Um mundo que não foi nem ele quem criou. Ingênuo aquele rapaz Jeová. E o fim da Terra só meu irmão Destino sabe.

Portanto não queira saber o ‘porque’ ou o objetivo do Tempo não ter existido antes; é um mistério muito além de seu intelecto, apesar dele ter melhorado 4 vezes mais na atual condição(e o ser humano vai evoluir até esse ponto a sua capacidade cerebral). Desculpe-me o insulto; mas não fique ressentido, pois eu lhe contarei o que acontecia quando Tudo era o Espaço sem a existência do Tempo. Anime-se, esse conhecimento é recompensador. Comecemos então:

Antes havia a verdade mais velha do Espaço e o Tempo não era uma verdade nascida nem unida com Espaço ainda...


 

"Olá. Você voltou. Eu imaginei que você viria".



(Conto inspirado em SANDMAN, a genial e imortal obra do genial; mas mortal, Neil Gaiman).


.

1 Reações:

Luna Phoenix disse...

vc já assinou!
=D
obrigada, mais uma vez pela visita...
vou add teu blog no meu tá?