sexta-feira, 8 de abril de 2011

Alteridade

Eu quero o caldo primordial invadindo minhas tripas.
Eu quero a fonte; a raiz da árvore genealógica das criaturas não criadas.
Eu quero o apêndice inflamado dentro dos meus sonhos.
Eu quero o esperma de Deus inundando o útero de nossa brevidade.
Eu quero um gesto que ofusque a luminosidade de todo o Sol.
Eu quero a pele morta de uma cobra assassinada.
Eu quero a sujeira embaixo das unhas de todos os cadáveres.
Eu quero incontáveis fantasmas para assustar o Carnaval em nossos corpos.
Eu quero descosturar as teias dos destinos do mundo,
E usar sua linha para remendar os rasgões de nossas almas
Eu quero o bolso sem fundo para guardar os valores em que todos acreditamos.
Eu quero o sorriso dos hipócritas para tapar as goteiras de nossos remorsos.
Eu quero a barba de Marx para limpar as privadas públicas de nossas ideologias.
Eu quero o peito viril de Don Juan,
Para anexar a vagina da Filosofia aos pênis da Poesia
Eu quero o coito entre todas as coisas.