terça-feira, 15 de novembro de 2011

Considerações

Nem me passa pela cabeça
Pegar na mão desta geração
E ajudá-la a atravessar a rua de suas escolhas,
Como se fossem crianças
Despreocupadas com o atropelamento de suas consciências

Nem me passa pela cabeça
Cravar a bandeira de minha subjetividade
No coração de uma era
Como se o tempo pudesse ser devorado por um indivíduo

Nem me passa pela cabeça
Escrever o que nunca foi escrito,
Nos livros sagrados ou malditos
Como se um dogma fosse capaz de resistir ao caos

Nem me passa pela cabeça
Lançar as bombas atômicas para a extinção da raça
Como se a dor pudesse ser menor na obliteração

Nem me passa pela cabeça
Ser um anjo no sétimo céu
Ou um demônio no quinto dos infernos
Como se ficções pudessem equilibrar o grande peso da realidade

Nem me passa pela cabeça
Terminar este poema com versos perfeitos,
No estilo e na forma
Como se o lirismo fosse mais importante que a sujeira embaixo de nossas unhas

Nem me passa pela cabeça
Dizer o que deve passar pela sua cabeça,
E talvez essa seja a única coisa que considero passar pela minha cabeça.

D. Q. M.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Epopéia

Me ajustei aos desajustados
Dancei a ciranda solitária
e não errei o passo
A sujeira embaixo de minhas unhas é mais importante que as teorias incontestáveis
Capturei todos os fantasmas que fazem girar a grande roda
E as engrenagens me agradeceram
Eu sou o grande anti-herói
que será devorado no auge de nossa covardia
E minhas migalhas insistirão em dançar o carnaval das possibilidades

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Perdição e Esquecimento

A geração perdida ainda não foi encontrada
Triste figura a desse deus agonizante
Não há luta ou sequer ímpeto
Uma alma em decomposição
Um corpo em genuflexão

Litros de pessimismo nas comportas de nosso tempo
Tédio escorrendo nas válvulas do coração de merda
O amor foi crucificado, e não retornou no 3º dia
Grande deus tecnocrático, quantos bits são necessários para a realização de um milagre?
Esta é a grande Ode A Desumanização dos Homens

A negação dominará todos os neurônios do nosso cérebro
E nossas idéias binárias serão mais impossíveis que as velhas utopias.
Violentados e satisfeitos,
Amando todos os cyber-amigos,
Odiando o resto do mundo;
Uma geração perdida dificilmente achará as revoluções esquecidas.

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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sociedade

No alto da colina havia um homem.

E aos seus pés, outros homens. E mulheres. E crianças.

Ele ri.

Eles choram.

Ele ri...

domingo, 1 de maio de 2011

SINTONIAS (poema dedicado à Metafísica)

Meu cérebro segue ejaculando idéias prazerosas
Captando mensagens antropofágicas
Elaborando fórmulas que nunca salvarão a humanidade

Meu espírito desliza pela carne
E sinto cócegas em minhas crenças
A parabólica do meu sexo está sintonizada ao canal entre suas pernas
Alto IBOPE

Continuo mastigando os vários aspectos de nossa ignorância,
De nossa sabedoria,
De nossa existência;
A refeição é farta
E meu estômago está em júbilo
A TV assassinou meus neurônios
E ninguém está de luto

Meu cérebro é um indigente
À espera de uma vala qualquer que se cave na literatura

Chega de olhos injetados de sangue
Chega de borboletas tentando causar furacões
Chega de poemas anêmicos
Precisamos masturbar a matéria da alma
E fazer gozar a frígida boceta Universal.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Alteridade

Eu quero o caldo primordial invadindo minhas tripas.
Eu quero a fonte; a raiz da árvore genealógica das criaturas não criadas.
Eu quero o apêndice inflamado dentro dos meus sonhos.
Eu quero o esperma de Deus inundando o útero de nossa brevidade.
Eu quero um gesto que ofusque a luminosidade de todo o Sol.
Eu quero a pele morta de uma cobra assassinada.
Eu quero a sujeira embaixo das unhas de todos os cadáveres.
Eu quero incontáveis fantasmas para assustar o Carnaval em nossos corpos.
Eu quero descosturar as teias dos destinos do mundo,
E usar sua linha para remendar os rasgões de nossas almas
Eu quero o bolso sem fundo para guardar os valores em que todos acreditamos.
Eu quero o sorriso dos hipócritas para tapar as goteiras de nossos remorsos.
Eu quero a barba de Marx para limpar as privadas públicas de nossas ideologias.
Eu quero o peito viril de Don Juan,
Para anexar a vagina da Filosofia aos pênis da Poesia
Eu quero o coito entre todas as coisas.