quarta-feira, 30 de julho de 2008

Criança-graxa

O pivete engraxate engraxa meus chinelos
Suja meus pés da cor preta de sua labuta juvenil
Passa por mim outro, invejoso do outro que me engraxa os chinelos
Ri de mim, e bate na latinha de graxa
Meus pés pretos, chinelos pretos, engraxados
E outros esperam de chinelos para o ar
A criança-graxa pergunta:
“Porque não usam mais sapatos?”
Olho pra ele e penso:
“Por que?”
Ele, de cabeça baixa, cantarola algo lustroso.
Canta e nem escuto. Sinto apenas a graxa fria em meus pés.
E o banco da praça quente em minhas nádegas
Hemorróidas nascerão do calor praciano.
O miúdo ser suado para a cantoria, e pergunto:
“O que tu canta?”
Ele: “sei lá moço, uma música de meu pai”.
Eu: “teu pai é cantor?”.
O pivete-engraxate-menino-de-rua disse e aponta:
“Ele é aquele pastor ali cantando música de deus”.


=======================================

terça-feira, 22 de julho de 2008

Derci



Sua Puta. Por que você morreu?
Droga! Merda!
Por que Derci?
Puta que pariu! Ela Morreu!
Vamos todos nos foder agora
Sem a sua vida livre e feliz
Uma vida de foder
Uma vida sem papas na língua.

--------------------------------------------

sábado, 19 de julho de 2008

Deportação ( 'eles'* não mudaram muito)

*'eles': as autoridades européias.
-----------------------------------------------------------

Deportação. Bom, muitos retornam de seus sonhos de férias em países europeus. Porque será? Porque são maltratados. Eles não maltrataram os povos sul americanos há tanto tempo? Que o diga os povos primitivos. Extermínio. Etnocídio. Agora isso se chama 'deportação', a maneira como essas culturas ditas 'sofisticadas' e modelos de civilização mundial lidam com os povos de suas antigas colônias. Liberté, Igualité e fraternité (nem sei se a escrita está certa, mas compreendem que nada disso está acontecendo, não compreendem?). Por isso vá e apaixone-se pela cultura ( a européia) que sempre pensou ter, por direito, a conquista dos outros povos. Vá para aqueles que se consideram o centro irradiador do progresso civilizatório. Vá.

Na verdade, e digo sem pestanejar, eles é que deveriam vir até nós (povo que resultou das colônias) e aprender como ser alguém menos 'europeu' (mas que venham despidos de seus shorts e camisas de verão e suas câmeras com zilhões de gigas de memória, não queremos turistas babacas que nem ligam para o povo que visitam). Vá para os que sempre nos consideraram bárbaros. E não é ressentimento de latino-americano oprimido pelas potências do norte, nada disso; é apenas consciência de um homem que não se enfeitiça fácil pelos encantos dos povos 'supeirores' e sofisticados. Vá, mas mantenha os olhos e ouvidos atentos (saiba pelo menos o idioma deles, pra entender que zombam da sua cara). E me dá vontade de entrar em todos os países sem precisar de passaporte ,visto ou qualquer outra permissão; porque o mundo é o meu país ( e de todos) e eles, nem niguém, podem impedir os moradores de caminharem em sua própria casa.

------------------------------------------------------------

sexta-feira, 11 de julho de 2008

CONTRA-PUTA

--------------------------------------------------------------------
"O poeta é um marginal desde que foi expulso da república de Platão."(Roberto Piva)

--------------------------------------------------------------------
Contra-Puta

Puta de 75 anos de idade
30 reais o programa
Uma mulher à 60 anos vivendo da prostituição
“E outros serviços domésticos”, como ela mesmo diz
Rosinha,
De nome verdadeiro Olga
Na praça da Sé, São Paulo
Não vá rir por ela conseguir clientes
Ela consegue
A contra-puta, aquela que não precisa ser deslumbrante
Luxuosa. Nada de glamour, noites de rainha
Nem de néon em uma boite ‘chic’
Puta de rua, velha, sim
Velha e vivida, dona de uma vida que esmaga qualquer outra que a desafie
Louvem esta mulher, paguem o programa
E voltem para suas casas e beijem a bandeira do Brasil.


------------------------------------------------------------------------

quarta-feira, 2 de julho de 2008

(UM TEXTO SEM TÍTULO)

-------------------------------------------------------------------------------------

Um texto sem título é este que voçê vai ler. Na verdade já começou, então vamos ao que interessa logo: a conclusão. Pois leitores dos nossos tempos não se preocupam mais com o enredo, a trama, o desenrolar da história; querem logo é o final delas, o que vai acontecer. Pois para frustração de todos direi que história alguma tem fim. Como? Muito simples, toda história tem um começo, até aquelas ficções que começam supostamente pelo fim, portanto é de se imaginar que terá um meio e depois um fim propriamente. Engano, não se encerra ali a história que voçê leu, ela perdura em sua memória, “mas o personagem conseguiu vencer”, sim ele venceu; mas quantas batalhas ele terá ainda que enfrentar, o que ele vai fazer de sua existência da sua vitória em diante? Uma história só fenece se não compreendermos que ela é incompleta; não há na história de um texto a completude plena, há sempre lacunas propositais e despropositais também; as lacunas propositais são características dos autores provocadores que colocam justamente a lacuna onde deveriam colocar sua peça principal, deixar subentendido a idéia principal e passível de interpretações é uma forma de demonstrar que sua história terá tantos fins quanto interpretações; já as lacunas despropositais são aquelas geradas instintivamente ou por falta de habilidade do autor, na verdade são geradas pelas duas características porque o autor inábil em inserir lacunas propositais quando as consegue inserir foi por inabilidade e por instinto(inconsciência de tal uso), portanto haverão lacunas e incompletudes em todos os textos que vocês lerem. Inclusive este em que eu disse que anunciaria logo a conclusão, mas não o fiz em nenhum momento. “Mas então, qual a conclusão?” Se voçê se perguntar isso então não entendeu nada do que eu quis dizer.

--------------------------------------------------------------------------------