segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Gestação

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Eu vou pular fora desta carcaça
E abraçar novos tempos, novos instantes
A máscara derrete e meus osso propagam o sorriso hipócrita
Meus dedos enrijecem e minhas mãos esquecem o caminho correto
Eu vou dançar sobre o túmulo da minha geração
E fazer um strip-tease para todos os seus fantasmas
Minhas costelas são saborosas
E todos me devoram
Nasce em minha boca um escarro inclassificável
E todas as orações tentam me purificar
Os sonhos dolorosos machucam o que restou das minhas entranhas
E meus versos são vísceras indigestas
Ergui a bandeira piviana acima de todas as Igrejas
E os demônios despertaram no fundo dos meus olhos
Minha língua dobra alucinada dentro da boca da maldita poesia
Enquanto torturam minhas idéias nas instituições pós-modernistas
Eu vou dilacerar todos os meus órgãos
E vou doar o meu espírito
Quero trocar meu coração por uma orquídea
Para amar todos os insetos que me assediam
As palavras sufocam a garganta das minhas ações
E luto desesperadamente contra as cordas que me controlam
O sangue dos pesadelos purifica os pés da minha consciência
E o pessimismo aumenta seu fluxo em minhas veias
Estilos flertam comigo
E dou um fora em todos eles
Eu quero mais que um flerte
Eu quero noites inesquecíveis de sexo selvagem e casual com todas as estéticas existentes
Minhas amígdalas incham,
E ainda não cortei as linhas imaginárias com minha tesoura inexistente
Meus pulmões me convidam para mais trezentos cigarros
Todos querem o nosso último suspiro.
O Século não usou camisinha
Então engravidei do esperma grotesco de sua carcaça;
E do útero destes versos
Nascerá um tempo liricamente monstruoso.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O Carnaval Perene

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Minha alma arranhada cruza as esquinas do Século decadente
Meus dentes esmagam o aço das palavras castas
Os poemas escorrem entre minhas neuroses
Arranhei a lisa forma que pretendia ser o Princípio
Arranquei o último parafuso da Super-estrutura
Acordei o Carnaval Perene e sambei sobre a carcaça do século
Estamos juntos no Hospício Universal
E nossas vidas passam na velocidade de um eletro-choque

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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Método

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Este tempo está sem fôlego
Donde retiramos a medula de nossa desistência?
A louca pede um pouco mais de estimulantes
E a tarde nos apresenta um crepúsculo revoltado

Enquanto atravesso a ponte pós-moderna
Meu corpo arde,
Meu pensamento arde,
E minha moral evapora.

O anjo idiota tenta me proteger
E eu cuspo em suas asas imaculadas
Por que não aceitarmos o prazer e os desafios?
Por que não negarmos a misericórdia e os milagres?

Sumam daqui os “salvadores profissionais”
Sumam daqui os “livros da verdade”
Sumam daqui os “pastores” com seus cajados
Nem todos os homens são gado ou cordeiro

A oração da manhã desperta os iconoclastas
Eu jogo pela janela os caminhos fáceis, os atalhos, as rotas seguras;
E dou o primeiro passo nos caminhos inesperados.

Só a Lua pode me fazer uma carícia
Pois minha pele é rude e meus versos são selvagens
Não abro mão de uma batalha contra os cães adestrados da literatura-bem-comportada

Eu agarro os versos e os masturbo
Até que gozem o lirismo nestas linhas;
E assim continuo,
Até ficar exausta a vagina da poesia

Os santos mortificam sua carne
E eu urino em suas feridas
Feridas divinas e vasos sanitários são a mesma coisa

O sangue escorre
E o hímen das proibições está rompido.
Como é bom ver a marcha violenta dos rinocerontes amigos meus

Recobraremos o fôlego antes que nos adestrem
Atravesse a ponte pós-moderna
Recupere a medula da sua liberdade
Dê os estimulantes à sua loucura
Deixe sua moral evaporar
Cuspa nas asas do anjo protetor
Negue misericórdias e milagres
Aceite prazer e desafios
Sinta-se veloz como um magnífico guepardo
Depois disso,
Estaremos prontos para conduzir nossa geração através dos tempos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"Cause I'm as free as a bird now" ¹

Nós comemos o vômito ancestral.
Mais um semestre se inicia na Universidade Federal do Adestramento.
A mesma bosta histórica
A mesma diarréia antropológica
A mesma estagnação psicológica.
Reviramos cadáveres
Em busca do osso inédito de suas idéias.
Sala de aula e professores-coveiros
Mestres na exumação filosófica.
O diploma nos espera
E o canudo será entregue,
Ou melhor, será enfiado no cú dos concludentes.
Nós anotamos a palestra do Professor Doutor em Filosofia da mecanização das mentes
Nós suplicamos por um Mestre que nos incentive a assassinar os mestres
(simbolicamente, é claro).
Os professores, feito mães-pássaro, regurgitam o alimento na boca dos alunos
E assim a baba das gerações perdura imoralmente.
Não incentivam a caçar
Tentam nos transformar em passivos passarinhos,
Acolhidos na Faculdade onde chocam ovos goros.
Mas vejo pássaros arriscando um vôo além das gaiolas acadêmicas
Vejo pássaros, de bom caráter, recusando o vômito ancestral
Vejo pássaros ousados o suficiente pra abalarem os paradigmas
Vejo pássaros despojados dispostos a cagar nas filosofias
Vejo pássaros iniciando uma nova canção.

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1- O título é de um trecho da música FREE BIRD da banda LYNYRD SYNYRD, e a tradução é esta: "Pois eu sou tão livre quanto um pássaro agora".


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sábado, 2 de outubro de 2010

Planos Múltiplos

Um calafrio percorre as arestas da Metrópole
E a voz autarca ecoa nos patamares da literatura moribunda
O novo Corpo surgirá dos destroços; da poluição; da decadente geração a qual não pertenço
E meus ossos não vão se ajoelhar diante dos necromantes
Meus versos são a contra-mágica que cuidará desses charlatães.
Me dê um Ministério e eu afundo o país em poucos instantes
Não sei o que fazer com poderes tão abstratos.
O útero da poesia recebe o esperma da minha criatividade
E o sexo tem que ser lúdico,
Porque se não for, o escritor aceita a coleira e ainda abana o rabo.
A Academia é um canil onde somos sacrificados,
E se ela for com sua cara, você ganha o adestramento imortal
Doce é a batalha que está por vir,
Meu sangue vigoroso anseia e ferve
Só a lua restará no embate iconoclasta
E vencedor ou vencido, eu a abraçarei com volúpia.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Cinismo 1

Os amigos se abraçam no parapeito da Entrega
O vento norte sussurra uma profecia gasta: “Os homens cairão do alto de sua arrogância”
A pele do mundo tem nojo de nossas carícias destrutivas
Tanto o filósofo quanto o idiota esperam compreensão
O abraço do Desejo é mais esmagador que a dentada do crocodilo
Passam diante dos meus olhos as tropas do império parasita
Acendo um cigarro de câncer e trago a morte lentamente
Os loucos não sabem o valor de suas alucinações e morrem sem glória no calafrio dos manicômios
A cerejeira em flor é linda e as pernas daquela garota também
Pesam sobre meus ombros os pianos intocáveis de John Cage
Aquela lasanha sobre a mesa me convida para uma batalha gástrica
O professor Manoel ensina a caçar o Espanto
O professor Piva ensina a seduzir o Espanto
O professor Cortázar ensina a criar o Espanto
Eu salto no pescoço da literatura e cravo meus dentes na jugular dos escritores adestrados
Eu sou um cão sem dono
Ninguém colocará uma coleira em meus versos

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Auto-retrato

Eu jogo o Jogo da Amarelina de Cortázar.
Eu padeço nos Paraísos Artificiais de Baudelaire.
Eu me excito com as Coxas de Roberto Piva.
Eu interpreto no Tearo do Bem e do Mal de Eduardo Galeano.
Eu choro A Morte de Ivan Ilitch de Tolstói.
Eu respondo o Livro das Perguntas de Neruda.
Eu navego na Jangada de Pedra de Saramago.
Eu dou risadas estrondosas da Divina Comédia de Dante.
Eu retribuo todas as Mensagens de Pessoa.
Eu tenho medo das Almas Mortas de Gógol.
Eu não condenaria Moll FLanders de Defoe.
Eu alegro a Memória de Minhas Putas Tristes de Márquez,
E não quero nunca ter Cem Anos de Solidão.
Eu plantei, no meu quintal, Palmeiras Selvagens de Faulkner.
Eu, ingenuamente, acreditei nas Mentiras que o Homens Contam de Veríssimo.
Eu pedi emprestada a máquina usada nos Ensaios Fotográficos de Manoel de Barros.
Eu xavequei a Lolita de Nabokov.
Eu dei estadia confortável para O EStrangeiro de Camus.
Eu não disperdiço o Sangue dos Outros de Simone de Beauvoir.
Eu, quando escrevo e trepo, não desisto das Ereções, Ejaculações e Exibicionismos de Bukowski.
Eu quero que, comigo, você Ame e dê Vexame de Roberto Freire.
Eu, muitas vezes, tenho as mesmas Tremulações Carnais de Donatien Auch.
Eu caio nos Estratagemas do Amor de Sade.
E escrevi este poema quando passei Uma Noite na Taverna de Álvares de Azevedo.

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terça-feira, 6 de julho de 2010

Quando a morte não é tão triste...

Quinta, dia primeiro, eu vi um gavião no quintal da casa de um amigo, ele estava ali parado e meu amigo me chamou:
- Davi! Vem cá ver uma coisa!
Quando cheguei no quintal lá estava ele.
Girava a cabeça para os lados.
Estava caçando? Estava descansando? Estava compondo um poema?
Não sei o que Roberto Piva fazia ali no muro,
não sei se aquilo era mais um estranho sinal de Saturno,
Mas com certeza ele não ficou nunca em cima do muro em sua vida poética, política, amorosa, etc.
Por isso, depois de nos deixar ver um pouco de sua forma xamânica de gavião,
ele voou para além de nossa compreensão...

À Roberto Piva (1937-2010)


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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Fragmentos de alguma coisa

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Eu sou a solidão de um vírus em quarentena
Eu sou o câncer sendo atacado por toda a química do planeta
Eu sou a dor que brota nas raízes dos contratos
Os cientistas não percebem, ou não ligam, que o primeiro clone será um órfão
Triste chuva essa que cai em nosso século
O concreto está em extinção
Minha vida é um desfile de moda sem roupas
A Lua está nua e nos ilumina com sua vagina incandescente
Eu estou na linha de frente do exército da luxúria
Minha mão não sossega nem nas missas, nem nas assembléias
A Academia atrofia os músculos de nossa ousadia
Eu cuspo pra cima a saliva das absolutas teorias
Eu sou a medula não-compatível com a leucemia dos chefes de Estado
Eu sou um sentimento que a puta e o michê não querem vender
A Rua dos Prazeres não cruza com a Rua da Renúncia
Meu mapa do amor foi desenhado por uma criança que se chamava Bataille
O contrário de pomba da paz é vagina da guerra
As mulheres poderiam se apossar dos bancos de esperma e depois exterminar os homens da face da terra,
Depois poderiam permitir o nascimento só de mulheres
Eu sou a utopia abortada do ‘Poeta Sórdido’ de Bandeira
Meu cú disse não ao pênis da censura e do sistema
Ninguém fode com minha poesia
E ai daquele que assediá-la
Bataille é meu escudo
Piva é minha lança
Que venha a vitória
Que venha a derrota
Estou pronto para a Guerra.

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segunda-feira, 24 de maio de 2010

"natura nihil facit frustra" ( a natureza nada faz de inútil)

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Se a Natureza aproveita todo átomo das pessoas que morreram
Então posso imaginar que em pelo menos um nanomilímetro de meu corpo há átomo poético de Walt Whitman;
E com esta pequena porção de beleza
Talvez eu possa alimentar a fome de meus delírios.

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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ave Copa do Mundo

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O Brasil é esta bola
Que os políticos chutam
E a corrupção é o gol de placa.
(Em 2014 tem mais)

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domingo, 2 de maio de 2010

O mais feliz dos fortalezenses.

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"Rio, me abraça com a tua decadência que eu te chamo de Maravilhosa precariedade na permanência
Maravilhosa precariedade na permanência
Maravilhosa precariedade na permanência
Maravilhosa precariedade na permanência
Maravilhosa!!!!" (Lobão - 'Samba da caixa-preta').


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Bebi goles de decadência este fim de semana
Me embriaguei de um tédio mórbido
Perambulando feito um zumbi pelas ruas da Cidade Bela
Que aos poucos transforma-se em fera.

Ah Fortaleza! O que fizeram com tua força?
Quem maquiou teu belo rosto desta maneira tão horrenda, tão Metrópole?
(E dizem que é apenas o começo)

No entanto, estou tão decadente quanto você
Sou a Cidade sem habitante
Sou o fantasma dançando em um túmulo abandonado
"Sou o mais feliz dos fortalezenses"
E o mais mentiroso também.

A Cidade Bela transforma-se em fera
E, junto com ela, mergulho nesta mutação macabra.



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quinta-feira, 15 de abril de 2010

POEMA DA SUA VOZ

Este é um poema para ser lido em voz alta
Se você tentar lê-lo apenas com os olhos não irá compreender nada
Faltará algo
Leia-o em voz alta
E se não está fazendo isso, recomece
Se já estiver fazendo continue


(vamos lá, leia em voz alta, não fique apenas percorrendo com os olhos e lendo com sua voz do pensamento, experimente. Se tem alguém aí do lado não ligue, leia livremente, ora essa! Sem sua voz esse poema não terá sentido)


Na verdade este é o “POEMA DA SUA VOZ”
É ela quem tem poesia
Não são minhas palavras
É ela quem é lírica
Não meus versos.
Tua voz é que é a chave para esta porta do entendimento
Tua voz é que é a órbita para esta Terra do sentimento
Tua voz é que é a vitória para esta luta do momento.

Sim! É o momento de ouvir sua voz
Se outros não querem te ouvir, fale mais alto!
Ainda não te ouvem?
Aumente o tom!
Continuam surdos?
Grite!
Te escutarão nem que seja pelos poros.

Lembre, o poema é a sua voz
Não meus pensamentos.
O poema é a sua voz
Não os meus lamentos.
O poema é a sua voz
Não os meus contentamentos.

Fale e continue falando

“Quantas vezes?”, você irá me perguntar.
“Tantas e tantas vezes”, eu irei te responder

Sua voz, quando você a lança no ar, é o poema do seu pensamento
Continue a falar
Sua voz é poesia que não pode parar.



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quinta-feira, 25 de março de 2010

Tentando domar o indomável.

Estou aqui nesta rede
Deixando as idéias fluindo,
As palavras despencando
E a imaginação explodindo

Estou aqui meio deitado
Meio sentado
Escrevendo não sei que poema
Não sei que história
E não sei que invenção
Isso mesmo! .... estou inventando,
pensando, dizendo, ouvindo
E,porque não, sonhando.

Estou juntando palavras na tentativa de dar algum sentido a isto
Tentando elaborar metáforas, analogias, conexões, enumerações.
Elaborando tudo a que pode me transportar para dentro de ti;
E até para dentro daquele que não está lendo.

Sim! Isso mesmo.... também escrevo para os que não me lêem....
Você, que não está lendo, faça o favor de continuar assim... me ignore....
Não me encontrará nas prateleiras de uma livraria ou biblioteca...
Não me alugue, não me compre.... continue assim na ignorânca dos meus versos.

Se; você que está lendo, sentir vontade de me apresentar a quem nunca me leu
Por favor, não faça isso! .... deixe aquela pessoa sem saber de mim...
Pra mim já basta o teu interesse, o teu carinho, a tua leitura, que é a massagem mais relaxante para minhas dores.
Meu corpo dói, e só sinto paz quando você começa a me massagear com sua leitura.
São seus olhos, percorrendo essas linhas, que salvam o meu dia.

Não exijo que me estude, que me critique, que me idolatre, me imite ou me propague.
Não necessito dessas coisas que, no fim das contas, não pagam uma vida bem vivida.
O que você está fazendo agora não tem preço,
Sinto cada centímetro de minhas lágrimas agradecendo tua atenção....
É você quem me escreve.... não sou quem te cativa.....
Não sou eu quem te emociona.... o movimento é começado a contrário....
É você que me cativa.... é você que me emociona....
Até mesmo aquele que não me lê... até você está fazendo mais por mim do que eu seria capaz de fazer em troca...

Sim! É esta a palavra: TROCA.
Você me dá cada linha, cada palavra, cada verso, cada emoção, cada página....
E eu te dou cada lirismo, cada metáfora, cada êstase, cada pensamento....
Eu te dou cada poesia....
Toda poesia que couber nessa vida...
E se não couber, não se preocupe,
Inventarei sempre uma forma de fazer caber,
Este é meu prazeroso ofício, ou como diria Jorge Luis Borges:
“Esse ofício do verso”.
Essa tentativa de domar o indomável.


(Dedico este poema à você que me lê, e também à você que não está lendo)

D. Q. M.
[escrito em 25/03/2010 , no balanço da rede]


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quarta-feira, 10 de março de 2010

Eurótico

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Meu beijo é mais genial que um artigo de Kant
Meu pênis é mais útil que uma idéia de Einstein
Meu seio é mais saboroso que um poema Moderno
Meus dedos são mais lascivos que a língua da Serpente
Meu abraço é mais aconchegante que a cruz de Cristo
Meu sexo é mais revolucionário que o espírito de Che
Meu esperma é mais nutritivo que a Fruta do Conde
Meu safadismo é mais educador que Paulo Freire
Meu orgasmo é mais demorado que a Missa do Galo
Meus poemas são mais hedonistas que Aristipo
Meus sentidos são mais eróticos que Bocage
Meus pensamentos são mais materialistas que La Mettrie
Meu charme é mais convincente que a Bíblia
Meus testículos são mais necessários que a Filosofia
Meu cú é mais lindo que Narciso
Meus pés são mais fornicadores que Saint-Ange
Meu livro é mais caído que Lúcifer
Meu corpo é Sade e Bataille; e mais um pouco.

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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Poesia É pra você.

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Há um riso nesta poesia
Há uma boca, e lábios, para tal
Há um corpo nestes versos

Há uma inspiração nesta linha
Uma expiração nesta outra
Esta poesia respira

Esta poesia fala
Sua voz é concreta
E diz não sei quantas frases

Esta poesia tem olhos
Enxergando seu leitor
(A poesia te vê)

A poesia tem estas mãos
Que te abraçam
Que te seguram

A poesia tem este corpo
Que te deseja
E te aproxima

A poesia tem estas pernas
Que caminham nos teus olhos
E correm nos meus dedos

Há, nesta poesia, uma carícia
Que só ‘outra poesia’ pode sentir
E você é essa “outra poesia”

Há, nesta poesia, um olfato
Que sabe o cheiro de versos raros
“Cheiro de versos raros” = baunilha

Esta poesia tem pés
Que chutam ‘gramatismos’
E pisam formalismos

Esta, e toda poesia tem um coração
O difícil é perceber
Quais são seus ritmos cardíacos

Esta, e toda poesia tem utilidade
não acredite nos poeticídas.
Poesia É com você, É por você, É de você, É pra você!


E apesar de poder morrer,
A Poesia ainda vive
E faz viver.

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Caça

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Como um gato de rua que ronda,
Caçando o vazio dos bairros
Procurando a fera adormecida
Adentro covis perigosos,
Mas saio ileso, com a pele intacta.
Estou vagando por noites sem lua
À procura do uivo profundo.

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Essas pessoas passam...

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Existem pessoas que são pedra
Duras, pesadas, sem graça.
A pedra precisa de um terremoto pra se mexer
A pedra só quebra à base da força
A pedra dura,
Essas pessoas passam.

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A BACANTE ou O LADO FEMININO-DIONISÍACO DE NIETZSCHE

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Ela engolia a agonia
A bacante,
Devorava o pênis da Moral
O rígido e pulsante membro da cristandade
Ela lambia a Primeira Filosofia
E dissolvia com sua ácida saliva
Os pilares da Metafísica,
A bacante trucida Platão
E Nietzsche grita: VIVA!
Ela rasga a carne dormente
Fazendo-a sentir novamente,
Ela oferece os seios suculentos
E bocas bacantes os devoram com voluptuoso deslumbramento,
A bacante introduz seus dedos na vagina das Religiões
E faz com que todos os deuses gozem,
Ela dilacera a fé
Tem orgasmos ao beber o doce sangue que escorre das chagas de Cristo,
Ela sodomiza o demônio Lúcifer
E cospe em suas asas negras,
A bacante seduz os Governos da Terra
E arranca os testículos dos governantes machos.
Com as fêmeas ela delira
E as faz delirar.
A bacante junta tudo no caldeirão da Hybris
Ela une cores, corpos, coisas, gozo.
Ela une forças, desejos, sabedorias, sonhos.
Ela une vida, morte, poesia, filosofia.
Ela ri do deus Apolo e de sua ingenuidade
Ela chora com o deus Dioniso e louva sua loucura sentimental
Ela estraçalha os livros sagrados
E limpa o sangue que escorre de sua verdade
Ela vomita vinho,
O doce líquido que vem de seu coração embriagado.
Ela lança no ar feromônios de frenesi
Ela arrebenta mentalidades ortodoxas
Ela almoça a Lei
E janta o Dogma,
Mastiga estas duas coisas
Dando dentadas destruidoras
Reduzindo a pó Legislações
A bacante não pára
Ela segue sempre
Sempre segue
Sangra sempre
Sempre sangra
Serve sempre
Sempre serve
A bacante canta
A bacante dança
E o ser-humano é a música que ela nunca cansará de apreciar.

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