sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Risadas e álcool (2ª Parte)

- Mas aquele cara tinha um carrão hein...
Ela ia pra casa, mas encontrou uma companheira de trabalho na esquina.
- Não era só o carro que era grande...
Silêncio. A piada era velha e de mau gosto.
- Já vou pra casa...
Conferiu as horas. Madrugada alta. Se benzeu. Mais uma noite de labuta. Merece o dia como descanso.
- Tchau.
- Até amanhã.
‘Infelizmente’, ela pensou.

- Brigaram denovo minha filha?
- Mãe, ele chegou tarde ontem, aí fui perguntar...aí ele nem ligou...fiquei perguntando e ele nem prestava atenção...conseguiu dormir sem nenhum peso na consciência. Acordou cedo e só não me chamou de santa.
- Conversa com ele minha filha.
A mãe, do outro lado da linha, não entendia muito bem a situação, afinal a figura materna dessa história estava mais preocupada com qual vestido irá sair pra trabalhar hoje.
- Tá bem mãe...

Olhou-se no espelho, conferiu os seios, alguns hematomas; alguns homens tem ‘a pegada forte’, as vezes brutal demais para o gosto dela. Mas é o ofício, o cliente tem sempre a razão. Vestiu-se. O celular toca. Sua filha: “-Mãe, ele chegou tarde ontem, aí fui perguntar...aí ele nem ligou...fiquei perguntando e ele nem prestava atenção...”. O resto vocês já sabem; e se a pergunta em sua mente é sobre o porque da mãe dela ser prostituta eu responderia com um sincero ‘é sim, e o ‘porque’ apenas ela sabe, mas é uma boa sogra’. Era uma mulher de muitos verões, mas seu corpo estagnara naquele estágio em que a maturidade é uma benção. “Uma coroa gostosa” , como dissera, certa noite, um jovem cliente seu.

- Uma meota.
Colocou o dinheiro (muitas moedas) no balcão. Olhou ao redor, mesas vazias. Um ar quente vindo da rua. “Sol da porra macho!”. Falou sozinho, pois o dono do bar pegava a meota na prateleira.
- Aqui.
- Me arranja um copinho de plástico por favor?
- Toma.
Agradeceu, saiu sorrindo. Destampou a garrafa, colocou cachaça até a metade ergueu o copo para o sol e disse:
- Sangue de Cristo.
Tomou num gole só e riu por ter dito aquilo. Muitos anos atrás era vinho, agora o sangue era transparente. Seus tempos de batina não eram tão felizes quanto estes de ‘santidade’.
- Celibato é uma tortura humana. – terceira dose.
Bastavam três doses para o seu alcoólico filosofar.
- O homem nasceu para o sexo...e...e...a mulher também é claro...não esqueçamos hein.
“Esqueçamos”, falava só, mas imaginava uma igreja lotada de fiéis ao seu redor.
Procurou assento numa calçada alta, colocou a ‘meota’ do lado esquerdo, ergueu o copo:
- E tentar suprimir isso é torturante, eu que o diga, mas...mas...Oi! Tudo bem minha filha!?
Uma transeunte olhou pra ele e ele educadamente a cumprimentou. Ela, traumatizada com homens bêbados ( seu pai era alcoólatra e violento) apressou o passo.
- Pois é... celibato... coisa do demônio isso sim!Encerrou o solilóquio filosófico e tomou mais outra. Cinco doses o deixavam triste, mas “seus tempos de batina não eram tão felizes quanto esses de ‘santidade’”.

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