terça-feira, 2 de setembro de 2008

Como ser um Escritor?

.

No Google pergunto: “como ser um escritor?”. Por que perguntei uma besteira dessas? Não sei se é isso, mas tenho por mim que muitos daqueles escritores que vendem seus milhares de “best seller’s” (ou ‘besta numa sela’ como diz uma amiga minha, a Deiviane) aprenderam como ser um escritor justamente numa dessas páginas eletrônicas (mas não dêem muita atenção pra essa minha visão dos Best Seller’s, pois sou um hipócrita e falo mal deles enquanto me divirto lendo alguns).
Não sou anacrônico, nem dispenso as facilidades que a tecnologia pode ‘agilizar’, e nem sou alguém (ou um ninguém) que vai esculhambar o mundo digital só porque tá na moda todos os pretensos escritores fazerem isso. Parece ‘pose’ essa bandeira: “a tecnologia é uma ferramenta do sistema”. Sim, a internet começou no Pentágono, depois disso é grande parte a velha ‘pornografia acessível’. E desde quando o homem não pensa sexualmente? Pois é, a natureza não pode ser sobreposta por algo tão jovem quanto a razão (mas um dia chegamos a maturidade racional [pensam os filósofos racionais]). Não é um grande bem todo esse acervo digital desnecessário, grande parte é descartável e risível até; por exemplo, pra mim o Word é uma máquina de escrever, e nele tem todos os sortilégios de ferramentas que incrementam o texto ‘aqui’ e ‘ali’, coisas que amiúde são só futilidades pra deixar o programa mais caro pra venda.

Mas já ia me esquecendo da pergunta “como ser um escritor?”. Pois é, como? O Google dá umas páginas interessantes como: “Para ser escritor neste país é necessário muito mais do que amar a escrita, do que ter a cabeça fervilhando de histórias, é necessário ser imune à desmotivação”. Não só nesse país, em qualquer canto desse mundo um cara desmotivado não faz nada, mesmo que ele tenha condição financeira, se ele em si não estiver bem nada sairá de suas idéias por mais que tente. A instabilidade do ser humano, física ou psicológica, material ou abstrata não é em si um grande empecilho, vide os tantos ‘instáveis’ escritores que tanto contribuíram para o mundo literário.
O ‘bem’ que eu falo é com sua arte propriamente.

Imaginem então um escritor perguntar-se, “como ser um escritor?”, ele não deveria perguntar-se e sim já ter escrito isso em qualquer lugar, seja num guardanapo do bar quase todo molhado pela água que escorre do copo de cerveja gelada ou no Word. Ele não pode contentar-se em ficar pensando coisas, ele tem que escrever. Como diria eu pra mim mesmo, “pensar escritamente”. Claro, as palavras formam-se na mente, mas Manoel de Barros tinha “nascimentos na ponta do lápis”, portanto deixem que algumas idéias sejam paridas nos seus dedos (se digitadas) ou na ponta de suas canetas ou lápis. Tenha cérebros em cada ponta de seus dedos, mesmo que você só use os indicadores pra digitar. Não perca tempo (como fiz, pra construir esse texto) perguntando esse tipo de perguntas a si mesmo, trave solilóquios mais interessantes com sua pessoa. E não se preocupe tanto com o reconhecimento; pois eu, que sou um desconhecido, diria para outro desconhecido: “- de desconhecido pra desconhecido, ‘não nos preocupemos tanto em ser escritores meu amigo, pois dizer ‘SOU ESCRITOR’ soa como um reles emprego dos tantos reles empregos que esse sistema reles nos reserva para que não nos sintamos tão reles seres humanos. Mas... como é mesmo o seu nome?”.

No entanto, se os louros vierem receba-os e não se sinta um pecador caso os louros venham em formas femininas, ou uma pecadora se vierem em formas masculinas, ou um pecador se vierem em formas masculinas, ou uma pecadora se vier em formas femininas, ou um(a) pecador(a) se vier em formas de cédulas. Receba os louros que lhe agradar.

.
V
“Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.”

...

VII
O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.

(Manoel de Barros - Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada - de "O Guardador de Águas").


Desexpliquemos a nós mesmos. Quem disse que esse pergunta precisa ser respondida? Desrespondamos ela então.
“- Como ser um escritor?” – perguntam.
“-Simples, se o quilo do feijão subir denovo vamos comer soja” – respondem.

-----------------------------------------------------------------

0 Reações: